Orléans era uma cidade que começava a voltar-se para o comércio portuário, muitos navios aportavam com mercadorias das Índias Orientais, Singapura, Norte da África, da península Arábica, China... Não seria difícil trocar os bens roubados por outros ou por moeda de ouro. Lá também fez muitos contatos que lhe deram informações muito valiosas sobre seus próximos destinos, e foi lá também que descobriu uma nova paixão...
- Rum? – disse Amora.
- Oui, madamme. Rum! – respondeu um provável comerciante entregando-lhe uma das garrafas. Tome prove e veja se vale a pena trocar por esta prataria, são os melhores, vieram do Caribe!
- Caribe? Hum... – levou a garrafa até a boca e logo engasgou com o ardor. Cof... cof... cof... Non pagarrei por isso!
O comerciante riu da moça e deixou-lhe ficar com a garrafa, disse-lhe que com certeza voltaria. Ela não acreditou, claro. Porém alguns dias depois estava mesmo de volta, comprou algumas garrafas, o quanto podia carregar em sua bagagem. Dentro de poucos dias já estava na estrada novamente.
- Blois? – perguntou um viajante.
- Oui, Blois. – respondeu nossa fugitiva.
E então o viajante apontou a direção, estranhou alguém querer ir a tal local, há muito Blois perdera seu status e sua importância comercial. Ela agradeceu-o e seguiu a cavalo pela estrada indicada, chegou ao final da tarde. Deu uma volta pela cidade, realmente não havia muito movimento como haviam dito os marujos em Orléans. Há quase um século a corte havia sido transferida para Paris e, com ela foram a prosperidade e atividade econômica que lá existia. Encontrou uma humilde barraca com uma senhora e perguntou-lhe sobre estalagens, assim que obteve a informação seguiu para a mais próxima.
Em seu quarto analisava o mapa que roubara da biblioteca do internato, passou a noite planejando seu próximo passo. Ao amanhecer seguiu a procura de informações com os feirantes, um deles indicou-lhe um senhor.
- Amboise – respondeu o homem – Soube que eles possuem uma bela biblioteca em seu castelo.
- Hum... fica próximo do rio Loire... – comentou Amora olhando para o mapa.
- O castelo fica às margens dele senhora.
Já a caminho do condado Indre-et-Loire milhões de idéias vinham-lhe à mente, enquanto esta tentava organizá-las servida de rum, a noite caía e o frio aumentava, o rum a aquecia. Foi então que avistou à sua frente na estrada uma charrete iluminada, embora gostasse de charretes não foi boa a sensação que lhe veio com a lembrança que a mesma despertara...
"Fazia frio naquela noite e a charrete disparava em direção a Paris. Dentro dela haviam duas figuras: pai e filha. A pequena garota não entendia o porquê de tanta pressa e o homem transparecia calma, no entanto por dentro estava angustiado com a idéia da Companhia das Índias Orientais o pegassem antes que este chegasse ao Caribe. Não saía da sua cabeça que se estivesse sozinho seria mais fácil, porém aquela “encomenda” que chegara à porta de sua cabine há alguns anos atrás não lhe deixava outra alternativa senão arranjar para esta também um local seguro.
- Para onde estamos indo, papai?
- Lembra daquela sua tia, a Natalie?
- Não. – respondeu olhando-o.
- Então... É pra lá que vamos. – e sorriu-lhe voltando-se para frente."
Acordou assustada com o trincar de ferragens, estava deitada sobre o pescoço do seu cavalo que andava vagaroso. Com os olhos semicerrados olhou para sua montaria e arqueou uma das sobrancelhas. Ouviu novamente o trincar de ferragens. Olhou para trás e com os olhos espremidos tentou enxergar o que vinha pela estrada, tratava-se de uma cadeia¹. Dentro da jaula estavam três homens, dois deles apoiados de pé nas grades olhando para estrada, o terceiro, moribundo, estava sentado num canto de cabeça baixa. O condutor a cumprimentou.
- Bonjour, mademoiselle. Sozinha na estrada assim tão cedo? – e deu um sorriso desdentado.
- Não, não. Encontrar-me-ei com meu marido logo à frente, na próxima vila. Chega hoje de longa viajem, sabe? Não pude agüentar-me de tanta ansieda...
- Mana? – exclamou o moribundo já de pé.
- Mas o que... O que ele faz aí?? – gritou Amora para o condutor ao reconhecer o amigo.
- Um criminoso, minha senhora. Matou a mulher e o filho...
- Não matei!
- Ora, mas...! Ele nunca faria tal atrocidade! Tire-o daí!
- Conhece-o madamme? Não grite. Não posso tirá-lo sem uma ordem oficial.
Ela pensou em proferir mais alguns insultos, mas conteve-se. Foi até o moribundo para conferir seu estado e perguntou:
- Como isso foi acontecer? Estás bem?
- Uma tragédia, mana... – falou o homem com grande pesar.
- Não importa o que houve, sei que és inocente. – olhou de canto para o condutor e falou em tom baixo – Irei tirar-te daí, Balian.
Saiu em disparada com sua montaria, já tinha tudo em mente, tudo.
__________________________________________________
Notas
¹ Movimento popular de transferência de condenados até a prisão.
- Rum? – disse Amora.
- Oui, madamme. Rum! – respondeu um provável comerciante entregando-lhe uma das garrafas. Tome prove e veja se vale a pena trocar por esta prataria, são os melhores, vieram do Caribe!
- Caribe? Hum... – levou a garrafa até a boca e logo engasgou com o ardor. Cof... cof... cof... Non pagarrei por isso!
O comerciante riu da moça e deixou-lhe ficar com a garrafa, disse-lhe que com certeza voltaria. Ela não acreditou, claro. Porém alguns dias depois estava mesmo de volta, comprou algumas garrafas, o quanto podia carregar em sua bagagem. Dentro de poucos dias já estava na estrada novamente.
- Blois? – perguntou um viajante.
- Oui, Blois. – respondeu nossa fugitiva.
E então o viajante apontou a direção, estranhou alguém querer ir a tal local, há muito Blois perdera seu status e sua importância comercial. Ela agradeceu-o e seguiu a cavalo pela estrada indicada, chegou ao final da tarde. Deu uma volta pela cidade, realmente não havia muito movimento como haviam dito os marujos em Orléans. Há quase um século a corte havia sido transferida para Paris e, com ela foram a prosperidade e atividade econômica que lá existia. Encontrou uma humilde barraca com uma senhora e perguntou-lhe sobre estalagens, assim que obteve a informação seguiu para a mais próxima.
Em seu quarto analisava o mapa que roubara da biblioteca do internato, passou a noite planejando seu próximo passo. Ao amanhecer seguiu a procura de informações com os feirantes, um deles indicou-lhe um senhor.
- Amboise – respondeu o homem – Soube que eles possuem uma bela biblioteca em seu castelo.
- Hum... fica próximo do rio Loire... – comentou Amora olhando para o mapa.
- O castelo fica às margens dele senhora.
Já a caminho do condado Indre-et-Loire milhões de idéias vinham-lhe à mente, enquanto esta tentava organizá-las servida de rum, a noite caía e o frio aumentava, o rum a aquecia. Foi então que avistou à sua frente na estrada uma charrete iluminada, embora gostasse de charretes não foi boa a sensação que lhe veio com a lembrança que a mesma despertara...
"Fazia frio naquela noite e a charrete disparava em direção a Paris. Dentro dela haviam duas figuras: pai e filha. A pequena garota não entendia o porquê de tanta pressa e o homem transparecia calma, no entanto por dentro estava angustiado com a idéia da Companhia das Índias Orientais o pegassem antes que este chegasse ao Caribe. Não saía da sua cabeça que se estivesse sozinho seria mais fácil, porém aquela “encomenda” que chegara à porta de sua cabine há alguns anos atrás não lhe deixava outra alternativa senão arranjar para esta também um local seguro.
- Para onde estamos indo, papai?
- Lembra daquela sua tia, a Natalie?
- Não. – respondeu olhando-o.
- Então... É pra lá que vamos. – e sorriu-lhe voltando-se para frente."
Acordou assustada com o trincar de ferragens, estava deitada sobre o pescoço do seu cavalo que andava vagaroso. Com os olhos semicerrados olhou para sua montaria e arqueou uma das sobrancelhas. Ouviu novamente o trincar de ferragens. Olhou para trás e com os olhos espremidos tentou enxergar o que vinha pela estrada, tratava-se de uma cadeia¹. Dentro da jaula estavam três homens, dois deles apoiados de pé nas grades olhando para estrada, o terceiro, moribundo, estava sentado num canto de cabeça baixa. O condutor a cumprimentou.
- Bonjour, mademoiselle. Sozinha na estrada assim tão cedo? – e deu um sorriso desdentado.
- Não, não. Encontrar-me-ei com meu marido logo à frente, na próxima vila. Chega hoje de longa viajem, sabe? Não pude agüentar-me de tanta ansieda...
- Mana? – exclamou o moribundo já de pé.
- Mas o que... O que ele faz aí?? – gritou Amora para o condutor ao reconhecer o amigo.
- Um criminoso, minha senhora. Matou a mulher e o filho...
- Não matei!
- Ora, mas...! Ele nunca faria tal atrocidade! Tire-o daí!
- Conhece-o madamme? Não grite. Não posso tirá-lo sem uma ordem oficial.
Ela pensou em proferir mais alguns insultos, mas conteve-se. Foi até o moribundo para conferir seu estado e perguntou:
- Como isso foi acontecer? Estás bem?
- Uma tragédia, mana... – falou o homem com grande pesar.
- Não importa o que houve, sei que és inocente. – olhou de canto para o condutor e falou em tom baixo – Irei tirar-te daí, Balian.
Saiu em disparada com sua montaria, já tinha tudo em mente, tudo.
__________________________________________________
Notas
¹ Movimento popular de transferência de condenados até a prisão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário